domingo, junho 19, 2005

namorinho de colégio

Ontem eu descobri que alguém estava namorando. E o surpreendente foi que, sem há meses atrás eu morreria de ciúmes, hoje eu simplesmente me vi feliz. Feliz por que alguém poderia dar certo. Por que alguém estava feliz e merecia. E por que eu também estou feliz. E devo merecer. Devo..

O mundo dá MUITAS voltas, e cada vez eu me surpreendo mais.. =)

Texto escrito em algum mês de 2004, no tempo em que eu gostava de alguém muito mais do que admitia e muito menos do que sabia. De uma certa maneira, eu sinto que sempre vou gostar. Só que de uma maneira diferente.. =)


Namorinho de colégio

É ridí­culo como guardo na mente
Cada um dos teus í­ntimos e cotidianos gestos.
O jeito irritante de me borrar as letras no caderno,
De tapar meus olhos
E o cheiro dessa camisa inútil
Que se espalha pelo ar
Todos os dias.

É ridí­culo como te observo
De canto de olho
E percebo cada movimento seu.
Como me recosto no teu ombro
E durmo leve
Te sentindo pulsar.

Na minha ânsia de querer
Te quero assim:
Sempre ali.
Meu refúgio.
Meu abismo.

sábado, junho 18, 2005

lição de vida

Gosto dos fins de tarde nublados
São presentes que o mundo me dá.
Sento na varanda,
deixo o vento frio bater,
solto os pensamentos.
As lágrimas rolam
(com a naturalidade da chuva fina).
Nos dias nublados o mundo sussurra poesia
baixinho, baixinho..
E as gotas d'agua entoam sua triste melodia.

Mas gosto dos fins de tarde nublados
sobretudo porque aguçam meus sentidos
e enfim reconheço
a beleza alegre que há
na sinfonia das manhãs vivas.



Texto escrito no fim de 2004. É sempre assim, a típica crise-existencial-dos-últimos-dez-dias.. Eu enlouqueço no fim do ano. Sempre. Seeeempre. E os 1os de Janeiro costumam se os melhores dias da minha vida. =)

Mas, não: eu não tô melancólica. To feliz. É só que eu vou encontrando relíquias como essa perdidas pela casa e não resisto a postar.. =)

quinta-feira, junho 16, 2005

aula de matemática


O professor de matemática está longe, longe muito mais longe que os 6 metros que realmente nos separam, e as equações exponenciais e raí­zes cúbicas e questões complexas de análise combinatória que desfilam no quadro branco são como letras intraduzí­veis diante de um analfabeto. Decifra-me ou te devoro. Um casal troca olhares. Três alunos discutem não sei bem o que, talvez o jogo de futebol da véspera, talvez a festa mais tarde na noite, talvez a menina que passou na esquina. Outros dois cochicham seus segredos. Um dorme, a cabeça recostada na parede e os óculos escorregando pela ponta do nariz, dorme suave até que aquele que acabou de chegar e entrou atrasado, com cara de quem não dormiu tão bem, resolva o acordar com um cutucão. Os outros gatos pingados encaram o quadro e suam suas manhãs de sábado na tentativa de decifrar as incógnitas da charada.

Mas lá fora a vida toca sua sinfonia misteriosa. Faz frio matinal, e o vento nas folhas da mangueira anuncia chuva fina. Um cogumelo brotou na grama, uma flor branca surgiu na lama do muro, um ovo rachou num ninho. Lá fora o mundo explode em silêncio.

E eu aqui, diante das equações inacessí­veis, imprimo meu tédio nessas palavras que ninguém vai ler..



(Março de 2004. Dia da festa [inesquecível] de Cau. Nossa.. Quantos detalhes de um único dia esse texto me faz lembrar.. Quantas histórias. Túnel-do-tempo.)

segunda-feira, junho 13, 2005

da janela

Eu quero o que há além do vidro:
O vento, o céu e o infinito.
Cores Vibrantes.
Pôr-do-sol Vermelho-sangue.
Vozes, músicas e abraços.
Cortar os laços.
Quero gritos e sussurros.
Toda a dor e todo o amor que há no mundo.
Eu quero a Vida esquecida em cada esquina.
A Vida não-vivida,
assassinada lentamente pelo dia-a-dia.
Quero plantar sorrisos,
regar com lágrimas
e colher sonhos.
Eu quero sonhos ardentes e insistentes.
Correr atrás de estrelas cadentes.
Me afogar no mar enorme
e me eternizar.

Eu quero o mundo além do vidro,
a Vida viva além do vidro,
o rio, o riso e o risco sorrindo além do vidro.

quarta-feira, junho 01, 2005

vaga-luz

Ela se trancou no quarto e ligou a música no volume máximo. Mais uma vez. Os acordes distorcidos não machucavam tanto os ouvidos quanto os gritos na cozinha. Pagú já havia chorado muitas outras vezes antes naquele canto escuro do quarto. Tantas vezes que agora já era quase insensí­vel aquilo tudo. Entrava em alfa. Os gritos não eram com ela, não lhe diziam respeito. E ela esquecia.

Meia-noite a gritaria cessa. Duas portas batem surdas e sem eco. E ela ainda acordada na cama, a luz acesa, o som ligado, a mente dormente e insensível.

No silêncio da noite bate aquela vontade louca de fugir. É que essa casa branca sufoca, enforca, engaiola. Por que eu sinto que as paredes me engolem, por que eu me sinto tão estranha e deslocada, tão intrusa no meu próprio lar?

Pagú vai até a varanda e olha o subúrbio. Mil luzinhas piscando como vagalumes na distância. Ah, quando eu era criança, como eu gostava de correr atrás dos vaga-lumes.. E se agora eu pulasse atrás deles? Quem sabe eu não alcançasse..

Mas Pagú nunca pula.
Não, não era por falta de coragem.
Era por excesso.
Pagu tinha coragem demais pra desistir de tudo aos 13 anos..