quarta-feira, junho 01, 2005

vaga-luz

Ela se trancou no quarto e ligou a música no volume máximo. Mais uma vez. Os acordes distorcidos não machucavam tanto os ouvidos quanto os gritos na cozinha. Pagú já havia chorado muitas outras vezes antes naquele canto escuro do quarto. Tantas vezes que agora já era quase insensí­vel aquilo tudo. Entrava em alfa. Os gritos não eram com ela, não lhe diziam respeito. E ela esquecia.

Meia-noite a gritaria cessa. Duas portas batem surdas e sem eco. E ela ainda acordada na cama, a luz acesa, o som ligado, a mente dormente e insensível.

No silêncio da noite bate aquela vontade louca de fugir. É que essa casa branca sufoca, enforca, engaiola. Por que eu sinto que as paredes me engolem, por que eu me sinto tão estranha e deslocada, tão intrusa no meu próprio lar?

Pagú vai até a varanda e olha o subúrbio. Mil luzinhas piscando como vagalumes na distância. Ah, quando eu era criança, como eu gostava de correr atrás dos vaga-lumes.. E se agora eu pulasse atrás deles? Quem sabe eu não alcançasse..

Mas Pagú nunca pula.
Não, não era por falta de coragem.
Era por excesso.
Pagu tinha coragem demais pra desistir de tudo aos 13 anos..

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Uma angústia dessa não se resolve saindo de dentro das paredes da casa. Pior é se sentir preso nas suas próprias paredes internas.

It sucks.

:/

8:49 AM, junho 09, 2005  

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