quinta-feira, junho 16, 2005

aula de matemática


O professor de matemática está longe, longe muito mais longe que os 6 metros que realmente nos separam, e as equações exponenciais e raí­zes cúbicas e questões complexas de análise combinatória que desfilam no quadro branco são como letras intraduzí­veis diante de um analfabeto. Decifra-me ou te devoro. Um casal troca olhares. Três alunos discutem não sei bem o que, talvez o jogo de futebol da véspera, talvez a festa mais tarde na noite, talvez a menina que passou na esquina. Outros dois cochicham seus segredos. Um dorme, a cabeça recostada na parede e os óculos escorregando pela ponta do nariz, dorme suave até que aquele que acabou de chegar e entrou atrasado, com cara de quem não dormiu tão bem, resolva o acordar com um cutucão. Os outros gatos pingados encaram o quadro e suam suas manhãs de sábado na tentativa de decifrar as incógnitas da charada.

Mas lá fora a vida toca sua sinfonia misteriosa. Faz frio matinal, e o vento nas folhas da mangueira anuncia chuva fina. Um cogumelo brotou na grama, uma flor branca surgiu na lama do muro, um ovo rachou num ninho. Lá fora o mundo explode em silêncio.

E eu aqui, diante das equações inacessí­veis, imprimo meu tédio nessas palavras que ninguém vai ler..



(Março de 2004. Dia da festa [inesquecível] de Cau. Nossa.. Quantos detalhes de um único dia esse texto me faz lembrar.. Quantas histórias. Túnel-do-tempo.)

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Agora eu fui ver, tu gosta de "As Brumas de Avalon", é? Já viu o filme? Se não viu, nem veja. Vai se decepcionar.

Mas os outros livros de Marion Zimmer Bradley são muito bons. Eu tô lendo A Casa da Floresta. Meu próximo projeto é A Senhora de Avalon.

;*

11:34 AM, junho 17, 2005  
Anonymous Anônimo said...

A biblioteca da Caótica tem uma pá de livros dela... Eu tenho um também (Witchlight), caso você queira emprestado é só pedir...

;D

8:17 PM, junho 17, 2005  

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