quarta-feira, novembro 23, 2005

usurpadora dourada

Fui destronada no dia em que a minha irmã nasceu. Para ser sincera, acho que nunca me recuperei desse golpe.

Mariana era um bebê todo dourado. Cabelos dourados e cacheados, brincos e pulseiras dourados. E até os olhos, primeiro azuis e depois verdes, acabaram (ai de mim!) dourados. Nem parecia minha irmã, já que eu tinha olhos e cabelos muito pretos desde o primeiro momento, e nunca me atraí muito por essas coisinhas que brilham. A vida tem mesmo essas ironias.

Quando Mariana chegou em casa, eu tive vontade de estrangulá-la. Eu sempre fui ciumenta, e a simples possibilidade de vir a dividir meu quarto, minha babá e minha mãe com aquele serzinho brilhante me incomodavam até o fundo da alma. Quanto a dividir meu pai, bem, isso não fez muita diferença. Meu pai não foi exatamente uma presença na minha infância. Logo, se a invasora quisesse ficar com ele, ele era todo dela.

A crise foi tão grande que comecei a fazer de tudo para chamar a atenção de mamãe. Um dia, ela me disse que queria que eu parasse de usar chupetas. Cristina entrou em desespero quando me viu jogando todas as preciosidades multicores no vaso sanitário da casa. Desceram descarga abaixo. Mamãe ficou tão feliz que me deu uma boneca do meu tamanho de presente. À noite, eu me abracei com ela e chorei com saudades das minhas chupetas.

Já lhes falei do meu aniversário de 3 anos? É o primeiro de que me lembro. Eu nasci em meados de fevereiro, Mariana no iníco de março. Para facilitar, mamãe fazia uma única festa. Essa, em especial, foi um baile à fantasia. Mamãe me vestiu de bailarina e me deu confetes e serpentinas. Mariana, que ainda não andava (de preguiçosa que era) ficou ostentando sua roupa de colombina nos braços de Cristina. Eu corri, dancei, pulei e ri (silenciosamente) da menina medrosa que chorava o tempo todo. "Crianças", pensava, de toda a altura dos meus 3 anos recém completados.

Mas minha irmã era mesmo uma preguiçosa. Nós tinhamos uma prima que havia nascido 10 dias depois dela, e por isso as duas viviam juntas e ficavam sempre no mesmo quadrado de madeira. Eu lembro de ficar observando as duas quando não tinha nada mais interessante para fazer nas tardes de semana. Marina, minha prima, se esforçava e se esticava toda para alcançar os brinquedos pendurados no quadrado. Dava tanta pena que eu seria capaz de ajudar, se tivesse altura suficiente para isso. E então, quando a lutadora finalmente conseguia, chegava a ladra. Mariana, que não movia um dedo atrás dos peduricalhos simplesmente virara para Marina e tomava o prêmio para si. Uma verdadeira usurpadora precoce!

Meus primeiros anos com aquela invasora foram assim: críticos. Mas é verdade que a idade aproxima as pessoas, e com o tempo, Mariana se tornaria (vejam só) uma amiga.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Como disse no outro comment, eu fui um usurpador tmb. Veja bem, é da natureza dos irmão mais novos aproveitar todo o terreno já criado pelos mais velhos. Não que isso nos torne dependentes deles...

Com o tempo, realmente as coisas vão mudando. Hj eu já converso com a minha irmã;

12:20 PM, novembro 23, 2005  
Anonymous Anônimo said...

Pode me linkar sim, quando tiver um tempo te linko tmb no In Loco ;)

12:21 PM, novembro 23, 2005  
Anonymous Anônimo said...

Clazinha, meu amor.. que mal pergunte, tua memoria é oq, hein? acho que nao lembro de nada da minha infancia ate meus 10, 11 anos.. heuiheuhue

propaganda: tenha seu reinado de volta! ajude-me a trazer nana pra sp! :]


hoho... :***

1:30 PM, novembro 23, 2005  

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