quinta-feira, novembro 24, 2005

in memorian

E alguém pergunta, do meio dos edifícios da São Paulo distante:
- Mas Clarice, que mal lhe pergunte, que memória é essa que você tem?
E Clarice, vagando incerta num dos ônibus depredados de Recife, pára e pensa.


* * *


Do Latim, Memoria. Substantivo feminino. Faculdade de conservar e reproduzir as ideias, imagens ou conhecimentos anteriormente adquiridos; a lembrança de qualquer coisa ou alguém; reminiscência; aptidão para recordar especialmente certas coisas; conjunto de funções psíquicas pelas quais temos consciência do passado como tal, que inclui a fixação, a conservação, a lembrança e o reconhecimento dos acontecimentos.

Se a memória fosse feita apenas pelas lembranças reais, ela não seria um décimo do que realmente é. A parte mais interessante da memória é o fato de que nós não simplesmente a temos; nós a criamos a cada momento, a partir das experiências, dos acontecimentos, das visões, das concepções de mundo que carregamos. Como uma colcha de retalhos: alguns dos retalhos são verdadeiros, outros são parecidos e por isso acabam se interligando.

Quando vejo fotos e escutos histórias, eu estou criando lembranças a respeito dos acontecimentos. Por isso, eu posso me lembrar de fatos que não presenciei, e ainda assim manter uma memória visual a respeito deles. Posso também lembrar dos fatos não exatamente da maneira que aconteceram, mas sim através dos filtros das minhas concepções de mundo.

E mesmo quando me lembrar de coisas que realmente vivenciei, o tempo irá se encarregar de alterar a forma e o conteúdo. A briga vai parecer menos grave, mais tola. A infância vai parecer mais alegre. A festa vai parecer maior. O grande amor vai parecer mais belo. A decepção vai se tornar superável. A gente vai aparando as pontas, limpando as manchas, tirando a poeira e retocando as cores. Nos tornamos autores das nossas próprias histórias.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

ainda assim sou desprovida de memorias de minha infancia :~ que tristeza...

mas é... nos somos autores de nossas historias. que belo :)

:**

ah, eu nem to entre predios, ta? tem um verde lindo do outro lado da rua.. :~

8:14 PM, novembro 24, 2005  
Anonymous Anônimo said...

cade fofuxo amarelo?
a lhama? era uma lhama? devia ser..
whatever... cade? :~
ah, cuzcuz, era o nome...

8:15 PM, novembro 24, 2005  
Anonymous Anônimo said...

Muito bem analisado. No campo da mente tudo pode ser moldado, igual aos sonhos. Isso é fascinante, mas ao mesmo tempo assustador. Não sabemos usar as ferramentas que temos e muitas vezes acaba dando confusão...

...e alegria. Concha de retalhos mesmo!

9:05 PM, novembro 25, 2005  
Anonymous Anônimo said...

mas como poderia ser diferente? acho que, no final das contas, glosamos nossas próprias histórias, da qual somos os autores, que passam a quase que estórias, numa reautoria tendenciosa e nossa... mudando nos sonhos o que não pudemos no passado "real".

12:39 AM, novembro 28, 2005  

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