terça-feira, junho 01, 2004

esperança..

Mais uma produção independente...
Por que quando chove no Recife morrem muitas esperanças.
E este inverno promete...

Esperança
01/06/04

Num barraco fedido e lamacento
Depois de sete dias de chuva forte
Nasceu Esperança
(Não disseram à mãe magra
Que Esperança não é nome de gente
Esperança é coisa que não se vê
E não se sente
É nome de coisa que nem sabem mais se existe).

Esperança já nasceu com fome.
Doía-lhe a barriga
e doíam ainda mais os olhos
famintos de vida e de coisas bonitas.

Não foi criança,
Esperança já nasceu adulta.
Aos sete pintava as unhas das madamas
(as suas eram vermelhas e roí­das).
Aos doze varria as casas das madamas
(o chão da sua era de terra batida).
Aos dezessete saía com os homens das madamas
(um que fosse seu não tinha).

Esperança não tinha sonhos.
Talvez até sonhasse, mas não sabia.
Não sentia os desejos ardendo no corpo
como água quente em pele áspera
de sertanejo,
E os perdia na sua falta de ser e de saber.
Esperança só tinha fome,
mas com a fome ela convivia,
e aquela dor nos olhos famintos, ela esquecia.

Depois de sete dias de chuva forte
O barraco desabou.
Esperança morreu sozinha e sem resgate,
Ninguém tomou conhecimento:
Só sua mãe magra derramou uma única lágrima
E deixou uma flor murcha nos escombros
Berço-túmulo de seu único fruto.

Esperança morreu franzina e muda
Como uma andorinha que nunca viu o Mar.